Entre matrizes, pixels e memórias: um percurso amazônico
A trajetória artística aqui narrada revela um criador que nunca se deixou aprisionar pelos limites da técnica ou da geografia. Entre a administração pública, a docência universitária e as madrugadas silenciosas no ateliê eletrônico, a arte sempre foi a corrente contínua — ora subterrânea, ora visível — que moveu sua vida.
Do barro ancestral das cerâmicas tapajônicas aos pixels minerais das gravuras digitais, o artista constrói um caminho onde tradição e inovação se encontram. As matrizes múltiplas de cor, elaboradas no espaço digital, prolongam o gesto da xilogravura e ressignificam a memória visual amazônica, abrindo novas frestas de leitura sobre identidade, espiritualidade e pertencimento.
Seu percurso, que se estende de Belém a Marabá, revela uma pesquisa incessante sobre a visualidade amazônica: mulheres caboclas, signos corporais indígenas, paisagens ribeirinhas, zoomorfismos e imaginários híbridos. Nessa travessia, há um gesto de descolonização estética, que recusa leituras simplificadas e busca afirmar a Amazônia como lugar de potência criadora, capaz de absorver e antropofagizar influências estrangeiras sem perder sua singularidade.
Hoje, a obra se abre para o desafio contemporâneo da expografia digital e presencial, enfrentando os limites de circulação fora do eixo Rio-São Paulo e reinventando-se em ambientes virtuais, redes sociais e marketplaces. Entre telas luminosas e suportes físicos, a criação segue tecendo pontes: entre o rio e o pixel, entre o corpo e a cor, entre a memória e a invenção.
Aqui, a Amazônia não é apenas cenário, mas matriz poética e crítica: um território expandido que respira no compasso das águas, na luminosidade do sol oriental e nas camadas infinitas da arte digital.

